A possível compra da Electronic Arts (EA) por um fundo soberano da Arábia Saudita, em parceria com empresas de private equity, acendeu um sinal de alerta em toda a indústria dos games. O Sindicato dos Desenvolvedores de Jogos (United Videogame Workers-CWA) se manifestou publicamente contra o acordo, afirmando que a operação coloca em risco milhares de empregos, reduz a transparência dentro da empresa e ameaça a liberdade criativa dos estúdios que fazem parte da gigante norte-americana.
Sindicato dos desenvolvedores reage à compra da EA
Em comunicado oficial, o sindicato destacou que “a aquisição deve ser avaliada com cuidado”, pedindo que órgãos regulatórios e representantes eleitos investiguem o acordo antes de aprová-lo. O grupo ressalta que a EA não é uma empresa em crise: "A EA não é uma empresa em dificuldades. Com receitas anuais de US$ 7,5 bilhões e US$ 1 bilhão de lucro por ano, a EA é uma das principais desenvolvedoras e publicadoras de videogames do mundo", diz uma parte do comunicado. Por isso, a venda não teria justificativa financeira, mas sim interesses puramente corporativos e de investimento.
A operação envolve um fundo soberano saudita e a Affinity Partners, empresa ligada a Jared Kushner, genro do ex-presidente Donald Trump. Segundo o sindicato, as negociações foram conduzidas “sem qualquer representação dos trabalhadores”, deixando de fora justamente aqueles que constroem os jogos e mantêm o sucesso da EA há décadas.
Risco de demissões e fechamento de estúdios
Um dos pontos mais críticos levantados pelo sindicato é o possível impacto sobre os estúdios considerados menos rentáveis: "Estamos particularmente preocupados com o futuro de nossos estúdios que são arbitrariamente considerados 'menos rentáveis', mas cujas contribuições para a indústria de videogames definem a reputação da EA," diz outra parte do comunicado.
A preocupação não é infundada: desde 2022, mais de 40 mil profissionais já foram demitidos na indústria global de videogames. O sindicato teme que uma aquisição desse porte amplie ainda mais esse número, repetindo um padrão de cortes agressivos e decisões tomadas “a portas fechadas por executivos que nunca escreveram uma linha de código”.
Falta de transparência e apelo por regulação
Outro ponto central do protesto é a falta de transparência nas negociações. Quando uma empresa passa a ser controlada por investidores privados, “os trabalhadores perdem visibilidade, transparência e poder”. Essa mudança, segundo o sindicato, enfraquece a capacidade de diálogo e deixa os profissionais vulneráveis a decisões puramente financeiras.
Por isso, a entidade pede que órgãos reguladores dos Estados Unidos, como a Comissão Federal de Comércio (FTC), examinem a aquisição e garantam que qualquer decisão futura “proteja empregos, preserve a liberdade criativa e mantenha a responsabilidade perante os trabalhadores”.
O que está em jogo para a EA e o mercado de games
A Electronic Arts é uma das maiores publicadoras e desenvolvedoras de videogames do mundo, dona de franquias como FIFA (EA Sports FC), The Sims, Battlefield e Apex Legends. A possível compra por investidores estrangeiros pode alterar profundamente o funcionamento da empresa e o destino de seus estúdios espalhados pelo mundo.
Além das consequências internas, o caso reacende o debate sobre a influência de fundos soberanos na indústria dos games e o impacto que grandes aquisições podem ter na criatividade e diversidade de jogos produzidos.
A manifestação do Sindicato dos Desenvolvedores reforça a crescente tensão entre os interesses corporativos e o bem-estar dos trabalhadores na indústria de videogames. Embora a compra da EA ainda dependa da aprovação de órgãos regulatórios, o alerta já foi dado: sem transparência, representação e segurança no emprego, até mesmo as maiores empresas do setor podem se tornar reféns do lucro a qualquer custo.
O futuro da EA — e possivelmente de muitos estúdios independentes que colaboram com ela — dependerá agora das decisões de mercado e das pressões políticas que surgirem nos próximos meses. A disputa pelo controle da gigante dos games mostra que, por trás dos lançamentos milionários e das franquias populares, existe uma luta silenciosa por direitos, estabilidade e voz dentro de um dos setores mais lucrativos do entretenimento moderno.
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