"As Parteiras" (2024), dirigido por Léa Fehner, é um drama francês sensível e intenso que mergulha na rotina de um grupo de estudantes de obstetrícia. O filme acompanha particularmente Sofia e Louise, duas jovens em formação que lidam diariamente com o nascimento da vida, ao mesmo tempo em que enfrentam pressões emocionais, dilemas éticos e desafios pessoais. A obra se destaca por retratar o ambiente hospitalar com autenticidade, fugindo do romantismo e mostrando a crueza e a beleza da profissão de parteira.
Com um estilo quase documental, o filme oferece uma visão intimista dos bastidores da maternidade, mostrando desde partos emocionantes até situações traumáticas como perdas gestacionais e conflitos com médicos. A câmera próxima, com planos fechados e ritmo frenético, transmite a urgência e o cansaço dos plantões. Ao mesmo tempo, há momentos de ternura e solidariedade entre as colegas, criando um contraste forte entre o desgaste físico e emocional e os laços humanos que se constroem nesse ambiente.
Um dos pontos centrais da narrativa é o crescimento pessoal das protagonistas, que precisam aprender a equilibrar técnica, empatia e resistência emocional. A relação entre Sofia e Louise é particularmente tocante, pois elas se apoiam mutuamente para atravessar os altos e baixos da formação médica. O filme também provoca reflexões sobre o sistema de saúde, as condições precárias de trabalho e o papel das mulheres na medicina, sem nunca cair em discursos expositivos.
O filme é, acima de tudo, uma homenagem às profissionais que acompanham o início da vida com dedicação e coragem. Com atuações naturais e um roteiro comovente, o filme convida o espectador a refletir sobre o que significa cuidar do outro em momentos tão vulneráveis. É um retrato poderoso da força feminina e da complexidade emocional de um trabalho muitas vezes invisibilizado, mas absolutamente essencial.
Final explicado
No final do filme, vemos as protagonistas Sofia e Louise atingirem um ponto de virada emocional e profissional. Após enfrentarem uma sequência de partos intensos e situações-limite — incluindo a perda de um bebê e conflitos com superiores — as duas finalmente compreendem o verdadeiro peso da profissão que escolheram. O encerramento não traz uma grande reviravolta, mas sim uma conclusão realista e sensível, condizente com o tom do filme: a aceitação das dificuldades como parte essencial do cuidar.
Sofia, que ao longo do filme vinha se questionando se realmente estava preparada para ser parteira, decide continuar sua formação, agora com uma postura mais madura e consciente. A sua transformação é marcada por uma cena simbólica: um parto em que ela assume a liderança, mantendo a calma e a empatia. Isso demonstra que ela encontrou sua voz e desenvolveu a confiança necessária para seguir na profissão.
Já Louise, que aparentava ser a mais forte e decidida, se permite finalmente demonstrar fragilidade. Após um colapso emocional, ela percebe que não precisa enfrentar tudo sozinha. A amizade com Sofia e o apoio das colegas tornam-se um refúgio vital para ela seguir em frente. O filme termina com um gesto simples, mas carregado de significado: as duas saindo do hospital juntas, de mãos dadas, em silêncio, olhando para o nascer do dia — um paralelo com o nascimento dos bebês que acompanham.
O final do filme reforça a ideia de que ser parteira vai muito além da técnica: é um trabalho profundamente humano, que exige presença, escuta e vulnerabilidade. Não há respostas fáceis ou finais felizes no sentido tradicional, mas há crescimento, solidariedade e uma escolha consciente de continuar, apesar das dores. É esse realismo emocional que dá ao desfecho sua força.