Jackie Brown é um filme de 1997 escrito e dirigido por Quentin Tarantino, baseado no romance Rum Punch, de Elmore Leonard. Diferente do estilo frenético de Pulp Fiction e Cães de Aluguel, Tarantino adota aqui um ritmo mais contido e maduro, explorando uma narrativa de crime com forte influência dos filmes blaxploitation dos anos 1970. A trama gira em torno de Jackie Brown, uma comissária de bordo interpretada magistralmente por Pam Grier, que é pega contrabandeando dinheiro para um traficante de armas e precisa elaborar um plano arriscado para sair dessa situação com vida — e com o dinheiro.
O elenco é um dos grandes trunfos do filme. Além de Pam Grier, o longa conta com Samuel L. Jackson como o carismático e perigoso Ordell Robbie, Robert Forster como o agente de fianças Max Cherry, Robert De Niro em um papel surpreendentemente contido como Louis Gara, e Bridget Fonda como Melanie, uma cúmplice preguiçosa e provocante. Cada personagem é construído com o cuidado característico de Tarantino, com diálogos longos e cheios de personalidade, que revelam tanto suas intenções quanto suas falhas.
Visualmente, Jackie Brown é um tributo à estética setentista, com trilha sonora marcante composta por clássicos do soul e do funk, que ditam o tom melancólico e nostálgico da história. O filme equilibra com maestria elementos de crime, romance e drama, mantendo o espectador imerso nas reviravoltas e nas sutilezas do roteiro. Tarantino demonstra aqui um olhar mais humano e menos explosivo, entregando um de seus trabalhos mais elegantes e emocionalmente complexos.
Ao final, Jackie Brown se destaca como uma das obras mais subestimadas da filmografia de Quentin Tarantino. Longe dos exageros estilísticos pelos quais o diretor é conhecido, o filme é uma reflexão sobre envelhecimento, sobrevivência e segundas chances, com uma protagonista que usa sua inteligência e experiência para virar o jogo. É um thriller maduro, com coração e estilo, que conquista pela autenticidade e pela profundidade de seus personagens.
Final explicado
O final de Jackie Brown é um dos mais sutis e emocionantes da carreira de Quentin Tarantino, e traz uma conclusão que recompensa a inteligência e a coragem da protagonista. Após todo o jogo de manipulação envolvendo a polícia e o traficante Ordell Robbie, Jackie consegue enganar a todos e sair com o dinheiro — cerca de meio milhão de dólares. Ela orquestra um plano meticuloso em que faz parecer que está colaborando com os agentes da ATF, enquanto na verdade troca a mala com o dinheiro durante a entrega final no shopping. No fim, Ordell é morto por Max Cherry e os policiais, encerrando o ciclo de perigo que cercava Jackie desde o início.
A grande força do desfecho está na relação entre Jackie e Max Cherry. Ao longo do filme, fica claro que há uma conexão genuína entre os dois — baseada em respeito, empatia e talvez até amor. No entanto, quando Jackie finalmente consegue sua liberdade e fortuna, ela decide seguir sozinha. Em uma das cenas mais melancólicas do cinema de Tarantino, ela se despede de Max com um beijo e parte dirigindo, enquanto ele fica para trás, emocionado, mas resignado com sua escolha.
Esse final simboliza muito mais do que um simples golpe bem-sucedido. Representa a independência e a resiliência de Jackie Brown, uma mulher que passou a vida sendo subestimada e explorada, mas que, no fim, vence em seus próprios termos. Ela não é uma heroína tradicional — comete crimes, mente e manipula —, mas é também uma sobrevivente que aprendeu a usar o sistema a seu favor.
Em essência, o final de Jackie Brown é agridoce: Jackie conquista o que queria, mas precisa deixar para trás o que poderia ter sido um novo começo com Max. Tarantino encerra o filme ao som da música “Across 110th Street”, a mesma que abre a história, fechando o ciclo de forma simbólica — uma lembrança de que, apesar das vitórias, a vida continua cheia de escolhas difíceis e caminhos solitários.
Onde assistir
O filme está disponível nos catálogos da: Apple TV, Prime Vídeo, Google TV.
Tags
filmes